Wolney Queiroz Maciel, o recém-empossado Ministro da Previdência Social, indicado após a demissão de Carlos Lupi, teve ao menos um encontro com representantes de entidades sob investigação por suspeitas de desviar R$ 6,3 bilhões de aposentadorias e pensões. A reunião, que levanta questionamentos sobre a lisura na gestão da Previdência, ocorreu em um momento crítico para o governo Lula.
A nomeação de Queiroz sucedeu a saída conturbada de Carlos Lupi, que deixou o cargo em meio a alegações de irregularidades no INSS. A proximidade do novo ministro com figuras envolvidas no escândalo eleva a pressão sobre o governo, que busca demonstrar compromisso com a transparência e o combate à corrupção.
Segundo o portal Poder360, o encontro ocorreu em 11 de julho de 2023, quando Queiroz ainda era secretário-executivo do Ministério. Na ocasião, ele se reuniu com dirigentes da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), entidade apontada pela Controladoria-Geral da União (CGU) como responsável pela maior retenção de valores de beneficiários do INSS por meio de descontos não autorizados.
A Contag também se destaca pelo elevado número de encontros com membros do governo Lula entre as associações investigadas. A entidade participou de 13 dos 15 encontros oficiais mapeados pelo Poder360 em órgãos ligados a benefícios previdenciários, evidenciando sua influência no setor.
Desde o início do atual governo, membros do Ministério da Previdência Social, do Ministério do Desenvolvimento Social e do próprio INSS participaram de pelo menos 15 reuniões com organizações investigadas pela Polícia Federal por descontos indevidos em aposentadorias e pensões. Os números, revelados em levantamento do Poder360, expõem a complexa teia de relações entre o governo e as entidades sob suspeita.
Entre os presentes em algumas dessas reuniões estavam os ex-ministros Carlos Lupi (Previdência) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social), além do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, que deixou o cargo após a deflagração da operação Sem Desconto. A presença de figuras de alto escalão em encontros com entidades investigadas intensifica as críticas à gestão da Previdência.
A lista de organizações investigadas inclui a Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB), a Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (Aapen), a Universo Associação dos Aposentados e Pensionistas dos Regimes Geral da Previdência Social (AAPPS Universo), entre outras. Essas instituições são o foco da operação Sem Desconto, que investiga suspeitas de fraudes em cobranças mensais nos benefícios de milhões de segurados do INSS.
O Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi), também investigado, participou de uma reunião na sede do INSS, em Brasília, em 21 de julho de 2023. Curiosamente, o vice-presidente do Sindnapi é José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula, adicionando um elemento político delicado à investigação.
Uma auditoria conduzida pela CGU revelou que 97,6% dos aposentados e pensionistas do INSS tiveram descontos não autorizados em seus benefícios para pagamentos a entidades sindicais e associativas. Os dados, alarmantes, revelam a dimensão do problema e a vulnerabilidade dos beneficiários do INSS.
A CGU detectou uma escalada nos valores retidos: em 2022, os descontos somaram R$ 706,2 milhões; em 2024, saltaram para R$ 2,8 bilhões, um aumento de quase quatro vezes. O número de solicitações para cancelamento desses descontos também disparou, alcançando 192 mil registros apenas em abril de 2024, demonstrando o crescente descontentamento dos segurados.
O levantamento do Poder360 analisou 739 mil registros de agendas de autoridades federais entre janeiro de 2023 e março de 2025 para identificar encontros com representantes das entidades investigadas. Os dados, embora sujeitos a possíveis omissões, oferecem um panorama abrangente das relações entre o governo e as organizações sob suspeita.
Fonte: http://revistaoeste.com