A crítica à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), levantada em 2021 pelo ministro aposentado Francisco Rezek, sobre o “excesso de autoridade convivendo com a escassez de leitura”, parece reverberar em recentes decisões. A reflexão ganha força ao analisarmos a decisão de Alexandre de Moraes que impôs medidas cautelares contra Jair Bolsonaro, onde a erudição forçada se esvai em meio a controvérsias jurídicas e deslizes textuais.
A decisão de Moraes, ao citar Machado de Assis, pretendia demonstrar conhecimento e erudição, mas acabou revelando uma compreensão superficial da obra do autor. Conforme apontado pelo advogado Enio Viterbo, a citação foi possivelmente extraída do site *Migalhas*, evidenciando uma busca apressada por embasamento cultural. O que se revela é que a frase de Machado, fora de contexto, denunciava a manipulação eleitoral no Império, ironicamente, criticando a mesma postura que Moraes parece emular.
A ironia não se limita à escolha da citação. A peça jurídica, que deveria primar pela clareza e precisão, revela falhas gramaticais que comprometem a mensagem. Em um trecho crucial, Moraes declara que o STF jamais faltou com coragem para repudiar agressões “contra os inimigos da Soberania nacional”, uma formulação que, no mínimo, suscita interpretações ambíguas. Seria um ato falho, uma confissão inconsciente de proteção a tais inimigos, ou apenas a confirmação da “escassez de leitura” apontada por Rezek?
Em suma, a tentativa de Moraes de adornar sua decisão com erudição machadiana se volta contra si, expondo a fragilidade argumentativa e a falta de domínio da língua portuguesa. Como sugere o autor do artigo, “Machado de Assis não merecia ter sido acordado da tumba para um espetáculo cultural tão degradante”. Resta ao leitor questionar se, diante de tal performance, o mestre Casmurro não preferiria ser esquecido.
Fonte: http://revistaoeste.com


