Crise Automotiva: Escassez de Terras Raras Chinesas Ameaça Produção na Europa

A indústria automobilística europeia enfrenta uma crise crescente devido à escassez de elementos de terras raras e ímãs permanentes, componentes cruciais na fabricação de veículos. O comissário europeu de Comércio, Maroš Šefčovič, expressou sua preocupação diretamente ao ministro do Comércio da China, Wang Wentao, em uma reunião tensa na última terça-feira. A implementação de um novo sistema de licenciamento de exportação pela China em abril de 2025 intensificou os atrasos nas entregas, colocando em risco a produção de montadoras em todo o continente.

A nova regulamentação chinesa, que afeta sete tipos de terras raras e ímãs, foi implementada após o aumento de tarifas sobre produtos chineses anunciado pelo então presidente dos EUA, Donald Trump. A medida é vista por autoridades europeias como uma forma de pressão econômica em meio às crescentes tensões comerciais globais. A dependência da Europa em relação ao fornecimento chinês de terras raras, que controla cerca de 90% do processamento mundial, torna o setor automotivo particularmente vulnerável a mudanças nas políticas comerciais de Pequim.

“Informei meu colega chinês sobre a situação alarmante da indústria automobilística europeia”, declarou Šefčovič, enfatizando a importância desses materiais para a produção industrial e o impacto disruptivo da escassez. Durante a reunião, a disparidade nos dados sobre as licenças de exportação levantou questionamentos adicionais. “Os dados dele eram muito melhores que os meus”, admitiu o comissário, ressaltando que montadoras já alertam para dificuldades iminentes. Em resposta, o ministro chinês prometeu esclarecer a situação o mais rápido possível.

Os efeitos da escassez já se manifestam na paralisação de linhas de produção. Na semana passada, a Ford suspendeu temporariamente a produção de SUVs em sua fábrica de Chicago devido à falta de ímãs. Executivos do setor alertam que os estoques atuais podem durar apenas algumas semanas ou poucos meses, o que agrava a urgência da situação. Diante desse cenário, a Comissão Europeia busca alternativas para diversificar suas fontes de abastecimento.

O comissário europeu da Indústria, Stéphane Séjourné, anunciou uma lista de 13 projetos em países terceiros, incluindo o Reino Unido, com o objetivo de garantir o acesso a matérias-primas estratégicas até 2030. “O bloqueio reforça nossa determinação de diversificar e reduzir dependências”, afirmou Séjourné. Enquanto isso, nos Estados Unidos, associações do setor automotivo já haviam expressado preocupação à administração Trump, alertando para as interrupções na cadeia global de fornecimento causadas pelos atrasos na concessão de licenças pela China.

Apesar das preocupações, alguns analistas ponderam sobre as motivações por trás das restrições chinesas. Maximilian Butek, diretor da Câmara de Comércio alemã na China, sugere que o problema pode ser mais burocrático do que político. “É só um monstro burocrático que criaram”, avaliou Butek, argumentando que a China estaria buscando melhorar suas relações com a Europa e não atacaria o setor automotivo nesse momento. No entanto, para Abigaël Vasselier, do think tank alemão Merics, a indústria europeia se tornou vítima colateral na disputa comercial entre China e EUA, resultando em potencial perda de empregos na Europa.

O presidente da Câmara de Comércio da UE na China, Jens Eskelund, ressaltou que a pressão diplomática e empresarial para normalizar as exportações está aumentando. “Para quem defende a redução de riscos, isso é a prova do porquê”, concluiu Eskelund, evidenciando a urgência de medidas para mitigar a dependência europeia em relação ao fornecimento chinês de terras raras.

Fonte: http://www.poder360.com.br

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