O jornalismo brasileiro perdeu uma de suas figuras mais emblemáticas. Mino Carta, fundador das revistas Veja e Carta Capital, faleceu nesta terça-feira, em São Paulo, aos 91 anos. Sua trajetória foi marcada pela ousadia e pela defesa de um jornalismo crítico e engajado, deixando um legado inegável na imprensa nacional.
Carta Capital, publicação que dirigia até seus últimos dias, informou que o jornalista enfrentava problemas de saúde. Nascido em Gênova, Itália, Mino Carta chegou ao Brasil ainda jovem e construiu uma carreira notável. “Mino começou a carreira na revista Quatro Rodas… mesmo sem saber dirigir nem diferenciar um Volkswagen de uma Mercedes”, relembrou a Carta Capital.
O jornalista ítalo-brasileiro revolucionou o cenário editorial brasileiro, estando à frente de importantes veículos de comunicação. Lançou e dirigiu a revista Veja em 1968, a revista IstoÉ em 1976 e, posteriormente, a Carta Capital em 1994. Sua visão progressista e independente moldou o debate público no país.
A Carta Capital se destacou por sua linha editorial progressista, contrastando com outras publicações de viés mais conservador ou liberal. A revista se posiciona como “maior referência em jornalismo progressista no Brasil, em qualquer plataforma”. Mino Carta também participou da fundação do Jornal da Tarde, em 1966, e do Jornal da República, em 1979.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do jornalista, expressando sua tristeza em uma rede social. “Recebi com muita tristeza a notícia da morte de meu amigo Mino Carta”, escreveu Lula, reconhecendo sua importância na história do jornalismo brasileiro. O presidente destacou a coragem de Carta em denunciar abusos durante o regime militar.
Mino Carta criticava a influência das redes sociais no jornalismo contemporâneo, defendendo a busca pela verdade acima do imediatismo digital. “Em lugar de praticar um jornalismo realmente ativo, na busca corajosa pela verdade, a imprensa está sendo engolida e escravizada pelas novas mídias”, afirmou em entrevista recente. Para ele, a internet limitou o jornalismo e passou a pautar os jornais.
Crítico do jornalismo empresarial, Mino Carta reconhecia os desafios de manter a independência editorial. “As revistas são, essencialmente, sustentadas por publicidade”, disse. Ele deixa um legado de coragem, independência e compromisso com a verdade, inspirando gerações de jornalistas.
Em tom pessimista, Mino Carta expressou sua descrença no futuro do Brasil e do jornalismo brasileiro. “Este país não tem saída, graças aos que o governaram e à permanência de um pensamento medieval representado pela Casa-Grande”, vaticinou. Sua visão crítica e incisiva permanecerá como um importante registro da história do país.
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br