Bolívia: Ascensão da Oposição Rompe Hegemonia de Esquerda e Leva Eleição para o Segundo Turno

Um ciclo de quase duas décadas de domínio político da esquerda na Bolívia chegou a um momento decisivo. As eleições deste domingo (17) marcaram a primeira vez em 20 anos que o Movimento ao Socialismo (MAS) não figurará no segundo turno presidencial. A disputa agora se polariza entre os opositores Rodrigo Paz Pereira e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga.

A apuração preliminar, divulgada pela autoridade eleitoral, indica Rodrigo Paz Pereira na liderança com 32,08% dos votos, seguido por Quiroga, que alcançou 26,94%. Samuel Doria Medina, empresário que conquistou o terceiro lugar com 19,93%, já declarou apoio a Paz Pereira. Andrónico Rodríguez, da esquerda, obteve 8,11%, enquanto Eduardo del Castillo, aliado do presidente Luis Arce, registrou apenas 3,14%. A significativa parcela de votos nulos, incentivada por Evo Morales, atingiu 19%.

A performance de Paz Pereira surpreendeu analistas e consolidou sua posição como um forte nome da oposição. O senador, natural de Tarija e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, capitalizou o descontentamento regional para construir uma base sólida contra o chamado “evismo”. Doria Medina, reconhecendo sua derrota, cumpriu a promessa de apoiar o candidato mais bem posicionado da oposição: “Ao longo da campanha, eu disse que, se não chegasse ao segundo turno, apoiaria quem viesse primeiro, se não fosse o MAS. Bem, esse candidato é Rodrigo Paz, e eu mantenho minha palavra.”

A fragmentação da esquerda contribuiu para o cenário eleitoral. Andrónico Rodríguez, outrora apontado como sucessor de Evo Morales, lançou-se candidato de forma independente, expondo as divisões internas. Luis Arce optou por não buscar a reeleição, e Evo Morales, impossibilitado de concorrer judicialmente, incentivou o voto nulo como forma de protesto, aprofundando a crise.

Além das disputas internas, a deterioração da economia boliviana intensificou o desgaste do governo. A queda nas reservas internacionais, a retração nas exportações de gás, uma inflação que atingiu 25% em 12 meses e a escassez de combustíveis alimentaram o descontentamento popular e abriram caminho para o avanço da oposição de direita.

Com nenhum candidato alcançando a maioria absoluta ou 40% dos votos com uma vantagem de dez pontos percentuais sobre o segundo colocado, a Bolívia se prepara para um inédito segundo turno em 19 de outubro. A medida, prevista na Constituição de 2009, será utilizada pela primeira vez para definir o próximo presidente do país.

Em seu discurso, Rodrigo Paz Pereira sinalizou uma busca por transformações profundas: “É o início de uma grande transformação”. Ele prometeu combater a corrupção e superar o que chamou de “Estado de bloqueio”, indicando a ambição de implementar mudanças estruturais no país.

Fonte: http://www.conexaopolitica.com.br

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