Tarifas de Trump: Especialistas Alertam para Impacto Adormecido nas Exportações Brasileiras

As tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a diversos produtos brasileiros já estão em vigor desde o último dia 6. Apesar de quase 700 itens terem sido poupados, o impacto real da medida ainda não se materializou por completo. O dólar segue em trajetória de queda e as exportações de julho superaram em 48% o desempenho do mesmo período no ano anterior.

O anúncio do aumento tarifário, feito por Donald Trump em 10 de julho, provocou uma reação pessimista inicial no mercado financeiro. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto de 2025 (INDQ25) registrou uma queda de 2,44% e o dólar futuro com vencimento na mesma data saltou 2,30%. No entanto, essa reação não se sustentou.

Especialistas apontam que as expectativas de corte de juros nos EUA, após o Federal Reserve (Fed) sinalizar uma desaceleração do mercado de trabalho, têm contribuído para a valorização do real frente ao dólar. A queda dos juros diminui a atratividade de ativos denominados na moeda americana, favorecendo o Brasil.

Paulo Serra, especialista em Financiamento de Infraestrutura e ex-prefeito de Santo André (SP), adverte que a aparente resistência do mercado brasileiro às tarifas americanas tem prazo de validade. “Hoje, ainda temos estoques, contratos e um câmbio que ajudam a amortecer o impacto. Mas se nada for feito, em três a seis meses, os efeitos começam a aparecer: custos mais altos, perda de competitividade e compradores buscando outros fornecedores”, afirma Serra.

Marco Saravalle, economista com mestrado em Economia e Finanças pela Fundação Getulio Vargas, destaca que o bom desempenho das empresas brasileiras também tem contribuído para o cenário atual. “O mercado está entendendo que as companhias continuam muito saudáveis, com expansão de lucro em 2023 e 2024, assim como em 2025”, afirma.

Lucas Borges, financista com especializações pela Harvard Business School e London School of Business and Finance, ressalta a importância dos juros elevados no Brasil, que atraem capital externo no curto prazo. “Devido a isso, estamos vendo um câmbio, hoje, que não desvalorizou, algo que seria natural com a insegurança e a instabilidade atuais”, explica.

Borges ecoa a preocupação de Serra, alertando para a temporariedade da resistência atual. “Esta resistência tende a ser temporária”, afirma. Ele acredita que, em poucos meses, os efeitos mais concretos das tarifas começarão a aparecer, especialmente em setores como a agroindústria e a siderurgia.

Os especialistas concordam que a China não representa uma solução imediata para compensar a alta das tarifas dos EUA. Borges argumenta que as exportações brasileiras para os EUA são, em grande parte, de produtos finais e de maior valor agregado, diferentes do perfil de consumo chinês.

Diante desse cenário, Borges defende uma ação rápida e eficiente do governo federal. “Se houver prolongamento das tarifas sem medidas compensatórias internas ou novas aberturas comerciais, a tendência é que a resiliência se esgote de forma rápida e gradual, com impacto mais visível no comércio exterior, no câmbio e no emprego ligado à exportação”, conclui.

Fonte: http://revistaoeste.com

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