Um estudo recente, publicado na revista *Temperature* em maio de 2025, lança luz sobre um problema crescente e muitas vezes negligenciado: o impacto letal do calor e do frio extremos. A pesquisa demonstra que as variações climáticas não apenas intensificam desastres naturais, mas também contribuem para um número significativo de mortes silenciosas e desproporcionais.
Ao analisar dados de mortalidade na Índia entre 2001 e 2019, os pesquisadores identificaram mais de 34 mil óbitos diretamente ligados às temperaturas extremas. A escolha da Índia como foco do estudo se justifica pela combinação de fatores de vulnerabilidade, como alta densidade populacional, pobreza, urbanização acelerada e os efeitos intensificados das mudanças climáticas – um cenário que encontra paralelos em países como o Brasil.
Além do número alarmante de mortes, o estudo revela padrões preocupantes: homens em idade produtiva são os mais afetados pelo calor intenso, enquanto as mortes por frio se distribuem de forma mais homogênea entre os gêneros. A pesquisa também aponta para a importância da infraestrutura urbana e das políticas de proteção social, já que a mortalidade é significativamente maior em estados com menor urbanização e investimento social.
Os resultados da pesquisa servem como um alerta global. Ao contrário de desastres como enchentes e queimadas, os impactos das temperaturas extremas são frequentemente subestimados e menos visíveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que quase meio milhão de pessoas morreram devido à exposição ao calor entre 2000 e 2019, demonstrando a magnitude do problema em escala global.
No Brasil, a situação também é preocupante. Um estudo publicado na *Nature Medicine* em 2022 revelou que cerca de 6% de todas as mortes urbanas na América Latina estão associadas ao calor e ao frio extremos. Outra pesquisa, da *Environmental Epidemiology*, aponta que o Brasil registrou mais de 142 mil mortes relacionadas a temperaturas extremas entre 1997 e 2018, com um aumento preocupante nas mortes associadas ao calor, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste.
A exposição a temperaturas extremas desencadeia uma série de efeitos fisiológicos no corpo humano, desde insolação e arritmias cardíacas até problemas respiratórios e neurológicos. As populações mais vulneráveis, como idosos, recém-nascidos e pessoas em situação de rua, são as que correm maior risco. Dados do Ipea indicam que o Brasil possui cerca de 282 mil pessoas vivendo nas ruas, expostas continuamente a condições climáticas extremas sem acesso a abrigo ou água potável.
Em suma, os estudos reforçam a urgência de implementar medidas eficazes para proteger a população dos efeitos do clima extremo. Ações como a criação de planos de contingência para ondas de calor e frio, a melhoria da infraestrutura urbana, o fortalecimento das políticas de proteção social e a conscientização sobre os riscos são cruciais para reduzir o número de mortes evitáveis e construir um futuro mais resiliente.
Fonte: http://www.poder360.com.br