Apesar da intenção do governo em impulsionar o acesso ao crédito com juros mais baixos, o cenário do crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada apresenta um panorama preocupante. Em maio, a taxa média de juros atingiu 55,59% ao ano, um aumento de 14,73 pontos percentuais desde fevereiro, período anterior ao lançamento do programa Crédito do Trabalhador.
Apesar do objetivo inicial de aliviar o bolso do trabalhador, os dados do Banco Central revelam uma realidade distinta. A Caixa Econômica Federal, entre os grandes bancos, apresentou a menor taxa (28,09% ao ano) em junho, enquanto o Banco do Brasil cobrou 45,41% ao ano, ainda abaixo da média do mercado. Contudo, algumas instituições chegam a praticar juros de até 122,19% ao ano.
O programa Crédito do Trabalhador permite que trabalhadores com carteira assinada utilizem até 10% do saldo do FGTS como garantia em operações de crédito consignado. A multa rescisória, equivalente a 40% do saldo do FGTS em caso de demissão sem justa causa, também pode ser usada como garantia. O objetivo é que as parcelas sejam descontadas diretamente na folha de pagamento.
Inicialmente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vislumbrava uma “revolução” com a proposta, prometendo uma redução dos juros pela metade. Já o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, almejava taxas similares às praticadas para aposentados e funcionários públicos. Entretanto, os números atuais demonstram um resultado divergente das expectativas.
Curiosamente, após o anúncio do programa, as concessões de crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada aumentaram consideravelmente. De R$ 1,57 bilhão em fevereiro, saltaram para R$ 2,25 bilhões em março e atingiram R$ 5,60 bilhões em abril, antes de arrefecerem para R$ 3,09 bilhões em maio, ainda assim, quase o triplo do valor concedido em fevereiro. O Ministério do Trabalho e Emprego chegou a afirmar que a concessão do rotativo do cartão de crédito teve uma queda em abril devido ao programa.
Segundo Carlos Augusto Simões Gonçalves Júnior, secretário de Proteção ao Trabalhador do Ministério do Trabalho, a comparação dos juros atuais com os de modalidades anteriores, restritas a grandes empresas com menor risco de inadimplência, seria inadequada. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego mostram que 62,6% das operações de Crédito do Trabalhador foram realizadas por trabalhadores com renda de até 4 salários mínimos, totalizando cerca de R$ 7 bilhões entre 21 de março e 9 de junho.
O estoque total de crédito consignado alcançou R$ 374,6 bilhões em maio, um aumento de R$ 4,0 bilhões em relação a fevereiro. O Itaú Unibanco, que oferece a modalidade desde abril, declarou que permite a migração de clientes para a nova modalidade com melhores condições. O Banco do Brasil informou ter ultrapassado R$ 4,5 bilhões em contratações no programa, com cerca de 450 mil operações realizadas.
Fonte: http://www.poder360.com.br