Calorão, lixo e concreto

O calor escaldante afeta diferentes pessoas de maneiras distintas, dependendo de suas condições sociais e ambientais
Onda de calor no Brasil — Foto: H2FOZ
Onda de calor no Brasil — Foto: H2FOZ

A onda de calor que tomou conta de várias regiões do Brasil afeta diferentes pessoas de maneiras distintas. O calor é igual ao frio, só gosta quem não sofre com ele. Uns sofrem, outros curtem. O calor escaldante em uma praia, embaixo de um guarda-sol, ao sabor de uma bebida gelada, é diferente da mesma temperatura para quem está varrendo uma rua ou fritando um salgado.

Os países desenvolvidos queimaram suas reservas naturais em nome do progresso e hoje boa parte deles depende do que restou nos países em desenvolvimento. Há uma espécie de dívida climática. E isso se repete em outra escala dentro dos próprios países, de acordo com a estratificação social. Basta olhar nas ruas das cidades para perceber que quem mais sofre com o calor em excesso são as pessoas que atuam com serviços braçais e não podem escolher a temperatura do ambiente.

No Rio de Janeiro, a média de atendimentos hospitalares por conta da onda de calor é de 450 casos. O problema é tão grave que os gestores passam a considerar a decretação de emergência em saúde pública. Em São Paulo, as altas temperaturas levaram órgãos de assistência social a montar barracas em pontos estratégicos para distribuir água, suco e chá gelado para pessoas em situação de rua, além de orientações e encaminhamentos assistenciais.

O lixo que as pessoas deixam para trás, especialmente em praias, contribui para a poluição e tem conexão com consequências ambientais. Além disso, a devastação de árvores urbanas e a concretização de praças e parquinhos infantis também têm impacto negativo no meio ambiente e na saúde das pessoas. A árvore derrubada piora a sensação térmica do lojista que prefere um toldo e se obriga a buscar ar condicionado.