Em um revés para a diplomacia ambiental brasileira, a China surpreendeu ao anunciar sua não participação no Tropical Forest Forever Facility (TFFF), o principal fundo de preservação florestal apresentado pelo governo Lula na COP30, em Belém. A decisão, confirmada por fontes com conhecimento direto das negociações, lança dúvidas sobre a viabilidade das ambiciosas metas financeiras estabelecidas para o fundo. O TFFF, peça central da estratégia brasileira para atrair investimentos globais na conservação, enfrenta agora um cenário desafiador.
O fundo, que já angariou US$ 5,5 bilhões em compromissos de investimento de países como Noruega, França e Indonésia, e com o interesse da Alemanha, ainda está longe da meta inicial de US$ 25 bilhões, com potencial de alavancagem para US$ 125 bilhões. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia expressado otimismo, prevendo que o fundo alcançaria US$ 10 bilhões no próximo ano. A ausência da China, no entanto, representa um obstáculo significativo.
Autoridades chinesas justificaram a decisão argumentando que o financiamento de iniciativas globais de conservação deve ser prioritariamente responsabilidade dos países desenvolvidos. A China considera que Brasil e Indonésia, na qualidade de economias emergentes, já demonstraram seu apoio ao aderir formalmente à iniciativa. Até o momento, os ministérios chineses do Meio Ambiente e das Finanças não se manifestaram oficialmente sobre o assunto.
O modelo do TFFF propõe a aplicação dos recursos captados em ativos financeiros de alto rendimento, com parte dos lucros destinada à remuneração dos investidores e o restante para financiar repasses anuais de US$ 4 por hectare de floresta protegida aos países participantes. No entanto, nenhum banco multilateral de desenvolvimento aderiu ao fundo até o momento, e as negociações com outros países, como Índia, Japão e Reino Unido, enfrentam obstáculos.
Em meio a este cenário, organizações da sociedade civil intensificaram a pressão por novos aportes. Treze ONGs alemãs divulgaram uma carta aberta cobrando um investimento de US$ 2,5 bilhões por parte da Alemanha. A promessa da Noruega, de US$ 3 bilhões em dez anos, está condicionada à adesão de outros doadores relevantes. Apenas a Fundação Minderoo, do bilionário australiano Andrew Forrest, confirmou adesão, com um aporte de US$ 10 milhões. “Recebemos retorno financeiro, e, melhor ainda, ajudamos a salvar as florestas tropicais do mundo. Não se trata de compensação de carbono”, declarou Forrest.
O governo brasileiro não se manifestou oficialmente sobre a decisão da China nem sobre as dificuldades na captação de novos investimentos. Com a COP30 em andamento até quinta-feira (21), em Belém, resta saber se novas adesões e compromissos serão anunciados para impulsionar o TFFF e garantir o sucesso da iniciativa.
