Nas décadas de 1930 e 1940, enquanto a Europa era devastada pelo horror nazista, Xangai se tornou um farol de esperança. A metrópole chinesa acolheu aproximadamente 20.000 refugiados judeus, configurando a maior comunidade judaica da história da China. A cidade ofereceu um refúgio seguro em um momento em que as portas de muitos outros países se fechavam.
Curiosamente, a população judaica na China hoje é significativamente menor do que o número de refugiados que Xangai abrigou há cerca de 90 anos. Estima-se que a comunidade judaica no país varie entre 2.500 e 5.000 pessoas, concentradas principalmente em Xangai, Pequim e Hong Kong, segundo o Congresso Mundial dos Judeus. Esse contraste demográfico destaca a importância histórica do papel de Xangai como porto seguro.
A atração de Xangai residia em sua política de não exigir vistos e garantir a aceitação dos refugiados judeus, uma raridade na época. “Xangai era uma das poucas cidades do mundo que não exigia visto para entrar”, destaca um pesquisador do tema. Essa política, combinada com o caráter multicultural da cidade, facilitou a adaptação inicial dos refugiados, que se encontravam a mais de 7.000 km de suas terras natais.
Apesar da relativa segurança inicial, a situação se deteriorou com a ocupação de Xangai pelo exército japonês em 1941. Cerca de 15.000 judeus foram confinados no bairro de Tilanqiao, transformado no tristemente célebre “gueto judeu” de Xangai. A liberdade dos refugiados foi severamente restringida, limitando-os a uma área de apenas 2,5 km quadrados, da qual só podiam sair com autorização de um oficial japonês.
O legado desse período permanece vivo em Xangai, com diversas referências à presença judaica. A sinagoga Ohel Moishe, construída por imigrantes russos em 1921, foi preservada e transformada no museu da história judaica em Xangai. Outra sinagoga, Ohel Rachel, também sobrevive, embora atualmente abrigue o comitê municipal do sindicato dos trabalhadores chineses da educação. Esses locais são testemunhas silenciosas de um capítulo crucial da história judaica.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do Japão, muitos judeus deixaram Xangai, buscando reencontrar suas famílias na Europa ou encontrar novas oportunidades em outros continentes. A Austrália, por exemplo, acolheu cerca de 2.000 judeus que residiam na China no final da década de 1940. Vários fatores contribuíram para esse êxodo, incluindo a guerra civil chinesa, o desejo de reunificação familiar e o crescente movimento sionista.
É importante ressaltar que a presença judaica na China é anterior à imigração em massa durante a Segunda Guerra Mundial. A comunidade dos “judeus de Kaifeng”, com raízes que remontam ao século VIII, é um exemplo notável. Estabelecidos na cidade de Kaifeng, na província de Hunan, esses judeus chineses mantiveram sua identidade religiosa e cultural por séculos, incorporando elementos da cultura local em suas práticas. Embora sua população tenha diminuído, seus descendentes continuam a preservar tradições judaicas na China contemporânea.
Fonte: http://www.poder360.com.br