A Justiça Eleitoral do Ceará cassou o mandato do prefeito reeleito de Santa Quitéria, José Braga Barrozo (PSB), conhecido como Braguinha, e de seu vice, Francisco Gardel Ribeiro (PP). A decisão, do juiz Magno Gomes de Oliveira, da 54ª Zona Eleitoral, é resultado de investigações que apontaram para abuso de poder político e econômico, além da utilização da facção criminosa Comando Vermelho para coagir eleitores. O caso expõe a grave influência do crime organizado no processo democrático local.
As investigações revelaram que o Comando Vermelho atuou diretamente na campanha de Braguinha em 2024. Segundo a Polícia Civil, o prefeito teria entregue um carro de luxo a um dos líderes da facção como pagamento pelos serviços prestados. A denúncia aponta para uma relação perigosa entre o poder público e o crime, com sérias implicações para a legitimidade do pleito.
Relatórios técnicos e mensagens interceptadas detalham a interferência do CV no processo eleitoral. Integrantes da facção interrompiam reuniões internas sobre tráfico de drogas para tratar da campanha, demonstrando o alto grau de envolvimento. Em uma mensagem, um membro do grupo chegou a ordenar ataques contra aqueles que não apoiassem Braguinha, incluindo atos de violência e vandalismo.
A investigação também revelou atos de intimidação, como pichações com fotos do adversário Tomás Figueiredo (MDB) e ataques a veículos de sua campanha. Comerciantes foram forçados a cancelar eventos políticos, e moradores que apoiavam o rival do prefeito foram ameaçados de morte ou expulsos da cidade. O Ministério Público Eleitoral (MPE) relata que até o cartório de Santa Quitéria foi alvo de ameaça de incêndio, partindo de um presídio onde estava detido um membro da facção.
Com a cassação, Braguinha e seu vice ficam inelegíveis por oito anos. O filho do prefeito cassado, Joel Madeira Barroso (PSB), presidente da Câmara Municipal, assumiu o comando do Executivo interinamente após a prisão do pai. A defesa do prefeito cassado afirma que vai recorrer da decisão, alegando confiança na Justiça Eleitoral. Enquanto isso, o município se prepara para uma nova eleição, assim que a sentença transitar em julgado.
Tomás Figueiredo, adversário de Braguinha, relatou as dificuldades enfrentadas durante a campanha, com eleitores recusando visitas por medo de represálias do Comando Vermelho. “Ainda que não seja possível quantificar o número exato de eleitores que tenham sido expulsos de Santa Quitéria antes do dia do pleito, é necessário reconhecer que a obstrução criminosa de um único eleitor já seria apta a viciar o resultado das urnas”, afirmou o juiz Magno Gomes.
Fonte: http://revistaoeste.com
